Poder e Cotidiano em Sergipe
13 de Maio 11H:35
ARTIGOS

União a todo custo?

Uma Resposta ao artigo de Camilo Daniel

Jeadi Frazão Bezerra Júnior
Estudante de Psicologia

Conheci Camilo em 2017 quando trabalhava como Jovem Aprendiz na Energisa e o encontrei em frente ao polo dessa empresa no Inácio Barbosa, aproximadamente às 7h da manhã, conversando com os eletricistas e demais trabalhadores que ali se encontravam, panfletando e – provavelmente – convidando-os para alguma manifestação.

Eu, como jovem petista que o era à época, fiquei entusiasmado de estar tão próximo de outro jovem (militante do PT) que estava tão interessado no futuro do país quanto eu e conversava com os trabalhadores com admirável determinação e vontade. Desde então, tenho acompanhado suas ações e intervenções nas redes sociais, observei suas articulações na Câmara Municipal de Aracaju na mesma medida em que acompanhei sua defesa da democracia, dos direitos sociais e da organização política do povo aracajuano tomarem forma e ganharem conteúdo nos diferentes espaços em que se fazia presente.

No dia 12/05/2021, me deparei – mais uma vez, em uma rede social – com o seu artigo intitulado “Para derrotar Bolsonaro: Frente ampla ou Frente de esquerda?” e, intrigado, me pus a ler. Ocorre que, após algumas leituras e releituras, percebi algumas contradições e problemáticas que – ao meu ver, mereciam ser apontadas e debatidas - com esse intuito, escrevo essa resposta:

Como o artigo é sintético e objetivo, tentarei também sê-lo, na medida do possível.

1 – A discussão sobre “Frente ampla” ou “Frente popular” não é recente e se inicia com o chamado de Jorge Dimitrov no 7° Congresso da Internacional Comunista, que ocorreu em 1935: “Unidade a todo o preço para barrar o caminho ao fascismo, à guerra, ao imperialismo!”. Em resumo, a ideia de Dimitrov era organizar uma frente de oposição que unisse social-democratas e comunistas em torno de uma mesma estratégia política. Daí surgem os problemas que só serão apontados no livro de Francisco Martins Rodrigues, lançado no ano de 1985 e intitulado “Anti-Dimitrov: 1935/1985 – meio século de derrotas da revolução”.

Acho que o título do livro fala por si só e, os esforços pela unidade se revelam, posteriormente, não como um clamor pela unidade em si mas por um certo tipo de unidade: aquela que representará os interesses da pequena-burguesia social-democrata e, em virtude do acirramento das contradições de classe no contexto de emergência do nazifascismo, delimitará os campos e possibilidades de atuação dos movimentos comunistas.

2 – Isto posto, gostaria de afirmar que a situação atual – e isso Camilo reconhece, ao dizer que “há um projeto neofascista se construindo com muita força na sociedade” – guarda suas similaridades com aquela em que as teses de Dimitrov foram discutidas e acatadas. E digo mais: é sintomático que, na mesma semana em que o Deputado Glauber Braga lança a sua pré-candidatura à Presidência da República pelo PSOL, alguém que é reconhecido no campo da esquerda publique um artigo em que diz: “Muito mais importante que construir uma proposta socialista para as eleições, é ter Lula na condução de uma grande Frente política capaz de derrotar Bolsonaro”.

3 – Acredito que o 3° tópico é demasiado determinista e se apoia somente no cenário onde o ex-presidente Lula é eleito em 2022. Afora isso, não discordo da necessidade de articulação tática em torno das eleições para a Câmara dos Deputados e do Senado Federal e, tampouco, recuso a importância de tratar das necessidades imediatas do povo. Mas e depois? Com o fim das eleições acabam também as mobilizações? O projeto neofascista que tem sido observado na segurança pública, nos setores empresariais, no agronegócio, etc. vai arrefecer espontaneamente e desistir de impor os seus próprios programas em virtude de uma derrota nas urnas?

4 - Outro ponto – e aqui, encerro – se Lula realmente tem possibilidades de ganhar as eleições no primeiro turno e, se como mostra pesquisa recém publicada pela Datafolha, Lula venceria de 55% a 32% em um segundo turno, qual o problema da consolidação de uma candidatura socialista?

Precisamos de unidade, isso é evidente. Mas não de unidade a todo custo ou de uma unidade em que não se fala sobre os programas e projetos políticos com a justificativa de barrar a emergência do “neofascismo”.

Precisamos debater programas, estratégias e táticas. E, vivendo em uma democracia, não podemos temer o surgimento de uma candidatura socialista. E, sobretudo, não podemos nos eximir de reconhecer sua importância e debater os seus projetos. A política, como sabe Camilo, não se faz somente nas urnas.

 

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